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Entenda as diferenças entre veganismo pragmático e abolicionista

Recentemente uma polêmica dividiu os veganos do Brasil e fez com que muitos tivessem sua “carteirinha vegana” recolhida:

A polêmica maionese vegana da Hellmann’s que recebeu o selo vegano da Sociedade Vegetariana Brasileira.

A Unilever testa em animais, então como um de seus produtos recebeu um selo vegano? O veganismo não é contra testes em animais? Quem está usando esse produto deixou de ser vegano?

Para responder essa pergunta é preciso entender que dentro do veganismo existem dois ramos diferentes de estratégia: o pragmatismo e o abolicionismo, e que cada um deles tem uma maneira diferente de aplicar o veganismo.

Entenda:

O veganismo

O veganismo propriamente dito é uma corrente de pensamento que sustenta que os animais não podem ser explorados pelos humanos, que eles devem ter seus interesses (e direitos) fundamentais respeitados, afirmando que não temos nenhuma justificativa moral para usar animais não-humanos para os nossos propósitos. De uma forma geral, o veganismo é o modo de vida que busca eliminar na medida do possível toda e qualquer forma de exploração animal, não apenas na alimentação, mas também no vestuário, em testes, na composição de produtos diversos, no trabalho, no entretenimento e no comércio.

O movimento surgiu em 1944 com a fundação da Vegan Society por Donald Watson. O grupo formado inicialmente por cinco vegetarianos estritos, tinha como objetivo defender e divulgar uma filosofia de vida totalmente contrária à exploração animal.

“Podemos ver claramente que a nossa civilização atual foi construída sobre a exploração animal, assim como as civilizações passadas foram construídas sobre a exploração de escravos, e acreditamos que o destino espiritual do homem é tal que, com o tempo, veremos com horror a ideia de que homens foram alimentados com produtos baseados nos corpos dos animais” escreveu Donald Watson na primeira edição do boletim informativo “Vegan News”, editado pela Vegan Society.

O movimento ganhou ainda mais força na década de 60, com os movimentos das revoluções contraculturais, em principal o movimento hippie, que tinha como mantra o pensamento da não-agressão e da paz e amor, os jovens divulgavam a ideia de preservação do meio ambiente e respeito à natureza e aos animais. Lutavam pelo fim da guerra, do uso de armas e o consumo de carne.

Apesar do objetivo final ser o mesmo (o fim da exploração animal), os veganos se dividem em dois grupos com métodos diferentes para colocar suas ideias em prática: os pragmáticos e os abolicionistas.

Antes de tudo é preciso entender que todo vegano é abolicionista por buscar o fim da exploração animal, o sufixo então diz respeito a vertente a partir do método que se acredita ser melhor para alcance de uma sociedade vegana.

Veganismo pragmático

Para os veganos pragmáticos as práticas tem maior peso do que as ideias, preferindo conquistar seus objetivos de maneira gradual.

Aquele velho ditado…

O que isso significa?

Por exemplo, uma notícia como essa:

Para um vegano pragmático é motivo de comemoração, porque foi dado pelo menos um pequeno passo para a diminuição do sofrimento animal.

O veganismo pragmático aceita que a indústria de exploração não acabará a curto-prazo e enquanto isso não ocorre, é necessário pensar nos animais que estão existindo e sendo explorados, permitindo que esses vivam nas melhores condições possíveis dentro de sua realidade.

Além disso, o veganismo pragmático é mais suscetível a ganhar apoio político, uma vez que não vai totalmente contra as grande empresas.

A Sociedade Vegetariana Brasileira é uma ONG pragmática, que por sua vez já conquistou muito espaço dentro de iniciativas públicas e privadas com projetos como Segunda Sem Carne e Se você ama um por que come o outro. Feitos como esses dificilmente seriam alcançados por abolicionistas, dado que grandes empresas jamais seriam aliadas, sempre rivais.

Para o pragmatismo, o boicote principal não deve ser à empresas, mas sim à produtos. Como frisa Tobias Leenaert, cofundador da ProVeg International:

“Se nós quisermos que empresas não veganas mudem ou transformem na direção de ser cada vez mais veganas e ter mais produtos, então esses produtos precisam dar lucro, eles precisam vender.”

Isso esclarece a dúvida que muitos veganos tiveram quando a SVB concedeu o selo de produto vegano à maionese vegana da Hellman’s. Para os veganos abolicionistas este seria um produto para vegetarianos estritos, visto que a Unilever comercializa na China, onde os testes em animais são obrigatórios.

Mas isso não vai contra um dos princípios do veganismo que vai contra testes em animais?

Novamente, o pragmatismo boicota produtos e não marcas. Para entender isso é preciso entender conceitos empresariais. A Unilever é uma empresa de bens de consumo que possui diferentes marcas, tais como: Omo, Dove, Doriana, Love Beauty and Planet, Helmann´s, Rexona, Mãe Terra entre outras. Todas essas marcas que são comercializadas na China passam por testes lá, no resto do mundo não.

Tendo isso em mente as grandes instituições veganas responsáveis pelos selos veganos em produtos (SVB no Brasil, Vegan Action nos EUA), concedem os selos pensando no produto individualmente e em sua trajetória no local onde é comercializado, desconsiderando se é testado em outros locais.

O veganismo pragmático foca em produtos e não em marcas. Se um produto específico não tenha nada de origem animal e nem tenha sido testado em animais, não muda o fato do produto e si ser vegano, nem mesmo se a marca realize testes em outros lugares do mundo ou em outros produtos.

Outro exemplo de marca “liberada” para veganos pragmáticos mas que abolicionistas vão contra é a Arcor. A Arcor é uma empresa que não realiza teste em animais, e o chocolate 53% e 70% amargo não contêm nada de origem animal, mas mesmo assim, não é apta para abolicionistas pois a Arcor  tem um acordo comercial na produção de biscoitos com a Danoneque testa em animais. Para os veganos pragmáticos não importa com quem a empresa mantenha relações ou para onde os lucros irão, tampouco importa se no processo de fabricação do produto alguma matéria prima é fornecida por alguma empresa que realize testes. O que importa é que a empresa em si não realize testes na produção do produto discutido no país em questão.

O veganismo pragmático auxilia grandes empresas a entrarem no mercado vegano (que está crescendo cada vez mais) e faz com que pouco a pouco esse movimento se expanda.

De uma forma geral, os pragmáticos apoiam empresas 100% veganas, mas também apoiam empresas não veganas que tenham algum produto livre de ingredientes e testes animais. Para eles o incentivo tem peso maior do que o boicote. 

Além disso, muitos veganos pragmáticos afirmam que essa é a maior abordagem para convencer alguém a adotar o veganismo.

Exemplos de veganos pragmáticos: ONG Mercy for Animals, ONG Sociedade Vegetariana Brasileira, ONG ProVeg International (Alemanha), ONG Vegan Action (EUA), Tobias Leenaert, Melanie Joy, Ricardo Laurino, Flavio Giusti, entre outros.

Veganismo abolicionista

Para os veganos abolicionistas é preciso abolir, ao invés de apenas regulamentar a exploração animal.

A mesma notícia:

Para um vegano abolicionista não é motivo de comemoração alguma, visto que a exportação ainda acontecerá de uma forma ou outra, tratando os animais ainda como mercadoria. Lutar por supostos “avanços” como este, incentiva esses sistemas e não representa nenhum passo em direção à solução do problema.

No veganismo abolicionista, nenhuma norma que regulamente o uso de um animal protege este animal, ela protege o interesse do seu proprietário em explorá-lo. Além disso, defendem que o aumento do bem-estar animal faria aumentar o número de animais abatidos, pois as pessoas se contentando com esta visão não iriam sentir necessidade de se tornarem veganas.

O abolicionismo é integral, idealista, intransigente e tem caráter radical-revolucionário. O pensamento é: reformas tendem a estagnar a busca pelo ideal.

O vegano abolicionista utiliza do boicote como sua ferramenta aliada, sendo contra todos os produtos vegetarianos estritos produzidos por empresas que de alguma forma testem em animais ou estejam direta ou indiretamente ligadas à isso.

Para os veganos abolicionistas, as grandes empresas que estão atualmente lançando produtos “plant based” estão tentando lucrar com o mercado vegano que está em ascensão, mas não se preocupam com os animais. Visto que as empresas somente se preocupam com o lucro, deixar de explorar animais nunca será uma opção viável, uma vez que isso dá muito lucro. Um exemplo disso são os subsídios atuais que o governo emite para as indústrias de carne e benefícios fiscais para pecuaristas.

Os abolicionistas tem uma tendência maior a adotar posturar anticapitalistas e incentivar pequenos produtos orgânicos. Mas isso não é exclusivo. Muitos veganos abolicionistas apoiam plenamente o uso de empresas 100% veganas, tais como: Bioporã, Baims, NoMoo, Face It, Sora, Sorvente Mondo, Superbom, Vida Veg, entre outros.

O veganismo abolicionista é de maior compreensão, uma vez que todos os princípios do veganismo são plenamente utilizados, em qualquer nível: qualquer relação, por menor que seja, que uma empresa possuir com alguma outra que realize testes em animais já a desclassifica de ser apta para veganos. 

Atualmente existem diversas listas e sites que ajudem os veganos abolicionistas a evitarem ao máximo produtos que tenham ligação com a exploração animal, exemplo: VegPedia, Ari Vegan, Portal Vista-se.

Exemplos de veganos abolicionistas: ONG Vegan Society (Reino Unido), ONG Sociedade Vegana (Brasil), Sérgio Greif, Gary L. Francione, entre outros.

Por mais comum que discursos de intolerância dentro do próprio movimento possam ser, é importante lembrar que NÃO EXISTE UM TIPO DE VEGANISMO CERTO!

Os dois modos são apenas meios diferentes de aplicar o veganismo, nenhum movimento é mais vegano que o outro e de forma alguma são rivais. Juntos somos capazes de levar o veganismo adiante.

Mas afinal, sabendo das diferenças entre veganismo pragmático e abolicionista, qual é a vertente que tem seu apoio?

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4 respostas

  1. Matéria excelente, parabéns! Esclarece muito bem as nuances do ativismo pragmático do abolicionista, por que na verdade o que importa são os animais, o que de fato e concretamente está sendo realizado pelos “animais”. Go Vegan!!!

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ESCRITO POR
Luiza Helena
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