Desde que entrei no mundo do veganismo, muita coisa me incomodava. Eu não concordava com muito que falavam e me sentia menos conectada ao movimento por conta disso.
Em 2016, decidi parar de comer carne e me informar mais sobre o que acontecia de verdade na indústria da carne e dos laticínios, como uma novata no assunto, comecei a assistir documentários, ler matérias e – meu maior erro – entrar em grupos de facebook para saber o que as pessoas falavam sobre. Digo e repito: não entrem nesses grupos!! Não vou dar nome aos bois e nomear cada grupo que faço parte e muito menos cada comentário que eu já li que me fez entender o porquê tanta gente pega no nosso pé.
Quando eu ainda era ovolactovegetariana, ler o que os veganos falavam sobre o veganismo me fazia sentir cada vez mais distante do mesmo, via isso como uma realidade que eu não conseguiria seguir. Eu nunca fui contra o sistema capitalista, não queria deixar de comer fora, comer “besteira”, e começar a fazer todos meus alimentos em casa. Ler isso me deixava um tanto quanto desestimulada a partir para o próximo passo.
No começo do ano passado, eu decidi começar com o Instagram, como eu já compartilhei com vocês, por conta de familiares que não entendiam muito bem o que era o veganismo e tinham um certo pré-conceito sobre o mesmo. Percebi que eu não queria ser como aquelas pessoas do facebook que bancavam de “polícia vegana” para cima dos outros. Eu não queria apresentar o veganismo como um bicho de 7 cabeças, eu queria mostrar que o veganismo pode, e é lindo, é gostoso, é gratificante.
Desde então eu tento produzir um conteúdo que aproxime as pessoas, que mostre que não é impossível ser vegano e que você não precisa deixar de fazer tudo o que gosta para compactuar com o fim do sofrimento animal.
Nessa minha jornada, já fui muito criticada. Seja dentro de discussões no facebook, seja em feedbacks das minhas postagens… Algumas pessoas têm uma visão do veganismo e não conseguem aceitar que outras pensem diferente.
Para mim, Luiza Helena, o veganismo é somente sobre o fim da exploração animal. Lutas humanas são sim importantes, mas não devem ser debatidas como foco no veganismo. Respeito totalmente quem gosta de abordar questões raciais, questões de injustiça, questões que abordem a luta contra o sistema capitalista, junto com o veganismo. Mas essa não é a minha abordagem.
A minha abordagem consiste em mostrar para as pessoas através dos três pilares: animais, meio ambiente e saúde, que o veganismo é a melhor escolha. E através de receitas, tento mostrar que não é preciso abrir mão de suas junk foods preferidas. Gosto de deixar claro que você não é menos vegano por preferir comprar um hambúrguer vegano congelado numa grande rede de supermercados do que cozinhar um hambúrguer de grão de bico em casa.
Não existe uma “polícia vegana“, ninguém vai tirar sua “carteirinha de vegano” por você fazer isso. Existem diferentes pontos de vista e diferentes métodos de abordar o veganismo. Nenhum está errado.
Existem pessoas mais idealistas, que lutam por um mundo 100% vegano, com empresas puramente veganas trabalhando com produtos veganos, onde só existe o veganismo e todos optaram por isso por conta dos animais. Menos que isso não é aceitável. Ei, esse é meu sonho também, ok? Mas vamos combinar que para chegarmos nisso temos um ENOORME caminho pela frente.
Existem pessoas mais pragmáticas, que focam nos resultados, independentes do tamanho. Aqui, as pessoas entendem que menos do que um mundo 100% vegano também é aceitável. Alguém que fica um dia sem comer carne por semana, também está fazendo algo, os ovolactovegetarianos também fazem parte do movimento e estão ajudando os animais. Aqui, não importa se você está deixando de comer carne por conta da sua saúde ou por conta do meio ambiente, não é exigido que sua única preocupação seja com os animais, nem mesmo é errado que você não se preocupe nem um pouco com os animais, contanto que você esteja fazendo algo. Eu me preocupo muito mais com os animais do que com qualquer outro dos três pilares, mas eu não posso excluir o fato de que alguém que vira vegano por conta da saúde, ajuda tanto os animais quanto eu.
Eu acredito que, a melhor maneira de trazer alguém para o veganismo, não é assustando a pessoa. Pelo contrário, é mostrando que não é tão difícil assim e você não precisa ter apenas perdas pessoais, você vai ter muitos ganhos.
Outro ponto que eu quero falar, é sobre grandes marcas não veganas produzindo produtos veganos. “NÃO É VEGANO! BOICOTA! SÓ QUER SABER DO NOSSO DINHEIRO!” Ok, mas em pleno século 21, quem é que não está preocupado com o dinheiro? Você pode ser a pessoa mais evoluída espiritualmente do mundo inteiro, pode ter sua própria horta orgânica e viver de subsistência, mas em algum momento o dinheiro foi ou será importante para você.
A gente tem que parar de achar que as empresas são “malvadas” só porque querem lucro. Elas podem ser “malvadas” por explorar mão de obra, por se manterem sob recursos ilegais, por poluírem o meio ambiente… Mas por quererem lucrar não.
O capitalismo só começou de fato a partir da acumulação de capitais, lá durante a Revolução Industrial. Isso não fez de ninguém mais ou menos malvado. Apenas começaram a dançar conforme o ritmo.
Ninguém é malvado por querer ganhar dinheiro com o veganismo, ok? As empresas podem ser malvadas por X motivos, mas por quererem lucrar não (repetindo isso para vocês entenderem).
Inclusive, grandes empresas produzindo produtos veganos (ou vegetarianos estritos, como muitos de vocês preferem), faz com que a oferta desses produtos aumente no mercado, quando isso acontece, pessoas que possuem interesse em se tornarem veganas, mas ainda não são, começam a consumir, porque é mais fácil, mais acessível, está mais estampado nas nossas caras, a visibilidade é maior. Com isso, aumenta a demanda.
A lei da oferta e da demanda funciona como uma faca de dois gumes, quando uma sobe, a outra sobe também. E sabe no que isso acarreta? Num aumento de competitividade entre as empresas ofertantes, essa competitividade faz com que uma queira ser melhor que a outra, queira apresentar o menor preço, a melhor qualidade, a maior inovação… Ou seja, quem sai ganhando nisso tudo somos nós, os animais, o meio ambiente e as próprias empresas.
Podemos pensar nisso também na hora que formos decidir comprar de uma grande marca não vegana e de uma pequena marca vegana, claro que podemos, nesse caso, dê preferência para a marca vegana, a lei da oferta e demanda funciona aqui também.
Mas o meu ponto principal é: não boicotem marcas não veganas que querem produzir produtos veganos. Elas não estão sendo malvadas, elas querem ganhar dinheiro sim em cima disso, e nós queremos mais opções e mais opções acessíveis, lembram? O boicote por um produto novo como as opções veganas costumam ser, não vai fazer nem cócegas na empresa (desculpe, mas às vezes precisamos trabalhar com a realidade), o que vai acontecer é ela perceber que esse mercado não é lucrativo, deixar de produzir, fazer com que outras empresas em potencial para esse nicho desistam da ideia e quem sai perdendo somos nós, os animais, o meio ambiente… e a empresa não. Entendem isso? Não vai mudar nada para a grande empresa produzir ou deixar de produzir produtos veganos. Mas de uma forma mais ampla, vai mudar muito para nós e para os animais.
Quero ressaltar também, que ninguém é menos vegano por pensar diferente ou por não ser capaz de no dia a dia consumir apenas produtos 100000% veganos. Não se cobre tanto ok? O veganismo não é para te machucar, você não precisa sair no prejuízo para ajudar os animais. Faça o que você pode mas nunca se esqueça: se acomodar numa posição é diferente de fazer o que está ao seu alcance.
Eu sei que depois de ler esse texto, se você é um vegano mais velho na luta, vai ler e pensar: “essa menina não é vegana, ela é uma vendida pelo capitalismo”, e tudo bem você pensar assim, se meu conteúdo não te agrada, siga o caminho! Agora se esse texto te fez pensar: “poxa, eu também penso assim…” saiba que você não está sozinho! Me chame no instagram e vamos conversar sobre!
Agora, se depois de ler esse texto você ficou com raiva de mim, quer me bater na rua (ok, espero que eu não tenha ofendido ninguém a esse ponto), tente repensar na sua vida, o que a minha opinião vai mudar para você? Eu acho que nada, porque até eu me lembro, eu não sou a dona da verdade.
Enfim, espero ter passado um pouco do que eu penso para vocês e ter sido capaz de compartilhar minha experiência dentro do veganismo. Compartilhe com os amigos se gostou (e se não gostou também) e lembre-se: se você está começando a transição para o veganismo, não entre em grupos de facebook.
2 respostas
Lindíssima disse tudo! <3
aff linda 💚 gratidão