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Animais no show de horrores

O uso de animais no entretenimento existe desde tempos remotos, tendo sua origem no Império Romano, grandes anfiteatros como o Coliseu, foram sede de combates entre gladiadores ou opondo esses guerreiros contra animais selvagens.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desde então os animais seguiram sendo usados como peças no entretenimento e em 1768 surgiu a ideia de circo como conhecemos hoje, as atrações com cavalos eram as principais, junto com os palhaços e malabaristas.

Com o passar do tempo, um espetáculo ganhou popularidade nos circos: a doma de animais selvagens.

Os animais utilizados em circos vêm de diferentes partes do planeta e possuem necessidades específicas para a dieta, saúde, interação social, clima, e para os cuidados veterinários. No entanto, são todos treinados na mesma forma, vivendo nas mesmas péssimas condições. É absolutamente impossível que as necessidades individuais de cada animal sejam cumpridas. Pior ainda, os maus-tratos e a negligência com animais é presente em toda a indústria (SOAMA). Para o treinamento desses animais são usados métodos arcaicos como choques elétricos, chicotadas, privação de água e comida, os maus tratos também podem vir de outra forma, como deficiências nutricionais e hídricas e as horas de viagens itinerantes que os animais estão submetidos dentro dos caminhões.

Hoje em dia, a prática de circos com animais já foi proibida por muitos países como Índia, a Itália, Irlanda, Romênia, Eslováquia, Áustria, Holanda, Suécia, Índia, Finlândia, Suíça, Dinamarca, Argentina entre outros.

No Brasil, em 2000, durante um espetáculo circense na cidade pernambucana de Jaboatão dos Guararapes (PE), um menino de 6 anos foi capturado e devorado por um leão de dentro de uma jaula. O episódio chocou o país e foi o “estopim” para que a população local se mobilizasse e exigisse o fim da utilização de animais nos circos. O governo de Pernambuco respondeu à altura e proibiu a prática nos espetáculos do estado. Entretanto, nem todos os estados tomaram a mesma atitude de Pernambuco.

Estados brasileiros onde o uso de animais em circo é proibido: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Paraná, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,  Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

O mais triste na questão dos circos, é que o público alvo são as crianças e usar animais no circo implica em ensinar a elas que é normal se divertir às custas do sofrimento animal, que é normal os humilhar e maltratar. Além do circo, existem outros lugares que usam animais como forma de entretenimento, como por exemplo: o polêmico SeaWorld, os zoológicos e os aquários.

SeaWorld

A maior polêmica envolvendo o SeaWorld foi em 24 de fevereiro de 2010, quando a orca Tilikum matou a treinadora Dawn Brancheau no parque de Orlando. A notícia chocou o mundo e fez com que todos começassem a olhar para o local com mais atenção, até mesmo um documentário foi produzido por conta da repercussão do caso, o famoso: Blackfish.

Em Blackfish, é contado a história de Tilikum, uma orca macho que foi capturado ainda filhote nas águas da Islândia em 1983. O processo de captura de orcas é muito triste, elas são animais muito inteligentes e sensíveis, quando são separadas de sua família e comunidade em que vivem sofrem demasiadamente, existem relatos de pescadores que trabalhavam na pesca de orcas que contam que os animais adultos emitiam sons de sofrimento ao ver seus filhotes partindo com os barcos.

Depois de ser capturado, Tilikum passou por um treinamento que utilizava técnicas de castigo em um parque que hoje não existe mais e vivia junto com uma outra orca mais velha que quando se estressava por conta dos castigos que sofria, acabava descontando sua raiva no animal mais jovem, que normalmente aparecia cheio de machucados. Foi nesse parque inclusive, em 1991 que Tilikum fez sua primeira vítima fatal, a jovem Keltie. Esse ataque teve uma péssima repercussão ao parque, que acabou fechando.

Tilikum então foi transferido para o SeaWorld e lá continuou sofrendo com outras orcas que o machucavam. Existe entretanto uma explicação para a rejeição que sofreu entre os próprios animais. A sociedade das orcas é matriarcal, na natureza os machos costumam manter uma certa distância das fêmeas para que elas não se sintam ameaçadas, em uma piscina isso não é possível, fora que Tilikum era muito grande (maior que todas as outras orcas) para conseguir ficar afastado, pois ocupava muito espaço. Além disso, cada sociedade de orcas possui sua própria “linguagem”, quando animais de diferentes origens são confinados no mesmo lugar é comum que ocorra esse estranhamento, gerando brigas. Na natureza, quando há algum conflito desse tipo, cada sociedade vai para um canto – elas têm essa opção no oceano -, as orcas na verdade costumam ser animais tranquilos e nada violentos (entre elas e com humanos, com outras espécies são grandes caçadores, inclusive o nome baleia assassina vem disso), mas em ambientes fechados ficam estressadas (o que é normal, imagine você tendo a imensidão do universo para ir e vir, e ser obrigado a passar a vida toda num lugar pequeno e com pessoas que você não conhece e não entende o que dizem? É realmente estressante).

Em 1999 acontece mais um acidente. Um homem invadiu o parque durante a noite e aparentemente caiu na piscina de Tilikum por engano, o evento foi fatal. O homem era Daniel Dukes, tinha acabado de sair da cadeia e foi procurar um refúgio. O SeaWorld entretanto acobertou ao máximo esse caso, alegando que na verdade o homem tinha morrido de hipotermia. Isso porque Tilikum valia muito dinheiro, era o pai da maioria das orcas que foram reproduzidas dentro do parque.

Em 2010, quando atacou a treinadora no meio de um espetáculo, Tilikum já estava extremamente cansado e bravo, as orcas cada vez brigavam mais e se machucavam por conta do estresse que passavam por estarem em um local fechado. Depois desse acidente, foi proibido que os treinadores mergulhassem com as orcas e então foi instalado um piso móvel que se eleva até a superfície para auxiliar nos shows, isso acabou prejudicando os animais, a medida de segurança tirou ¼ da piscina, deixando-os com menos espaço ainda.

É importante ressaltar que apesar dos funcionários tratarem as orcas com muito carinho, do parque se preocupar com a segurança e bem estar delas, não muda o fato de que o lugar deles não é ali, a natureza deles é estar livre no oceano, não presos em um espaço limitado. Tilikum nunca matou por ser agressivo, mas porque estava frustrado e não sabe como lidar com isso. Tilikum faleceu em 6 de janeiro de 2017, devido a uma infecção bacteriana.

O parque tenta ao máximo não passar a imagem de que as orcas estão infelizes ou que são bravas, é mais lucrativo que elas pareçam fofas, isso vende mais souvenirs e atrai mais a atenção do público. Além das orcas, também é interesse do parque manter a imagem das belugas, dos pinguins, das morsas, das tartarugas e dos golfinhos. Mas, pesquisando cada um individualmente é possível perceber que elas também não são felizes e não apenas no SeaWorld, mas em qualquer outro parque.

 

Beluga

No SeaWorld a beluga Ruby matou seu bebê, mesmo mães dessa espécie sendo muito apegadas e superprotetoras. O caso não foi isolado, em sua segunda gestação Ruby tentou novamente matar seu filhote. Isso aconteceu pelo estresse que ela se encontrava.

Pinguins

Os pinguins são frequentemente operados com objetos dos mais variados dentro deles. Por não serem tão atrativos, não recebem tanta atenção dos parques (não somente no SeaWorld) e muitas vezes não tem a devida proteção.

Golfinhos

O caso dos golfinhos é ainda mais problemático, porque os lugares vendem uma imagem muito mais carinhosa dos golfinhos do que realmente é. O treinamento para a realização de truques funciona da mesma forma do das orcas, com o esquema de recompensas, atualmente o castigo e maus tratos não são mais utilizados, pois é preciso que o animal estabeleça uma relação de carinho e confiança com seu treinador, e punições romperiam o laço com o mesmo. O problema aqui não é a falta de amor que os funcionários têm com os animais, no documentário Blackfish fica claro como os treinadores se apegam a eles. O problema também não é o parque ser negligente perante às necessidades dos animais, a grande maioria é muito preocupada com isso. O problema é que são animais selvagens e os privar de viver na natureza, tirá-los do convívio com sua comunidade natural, é estressante e faz mal para eles.

Interação com animais

Entretanto, para tirar foto com os visitantes, o treinamento é diferente. Os golfinhos dividem um espaço muito pequeno com outros golfinhos, que na maioria das vezes não fazem parte da mesma comunidade, o que também é estressante. Além disso, costumam ter seus dentes lixados ou completamente removidos para evitar que machuquem os turistas que nadam com eles e até mesmos os outros golfinhos com quem convivem (semelhante a história das galinhas, lembra?).

Outros animais também são expostos a esse tipo de entretenimento, como por exemplo os elefantes, que são usados como meio de transporte. Durante o treinamento eles são expostos a maus tratos como pauladas e privação do sono. Você sabia que um elefante só suporta 150kg em cima das costas? Pois é, não deve ser o caso desse aqui:

Outros que sofrem com isso são os camelos, que são usados para dar um toque exótico na programação dos turistas.

De uma forma geral, araras, iguanas, ursos, leões, tigres, macacos, cobras, não são seres que nasceram para estar em cativeiro ou serem domesticados, sempre desconfie quando o lugar fornecer interação com esses animais, normalmente eles são comprados no mercado negro e sofrem maus tratos (e muitas vezes podem estar sendo drogados, como o caso do leão da foto abaixo).

Para deseja se sentir conectado com os animais, conhecê-los pessoalmente, saber como vivem, uma ótima opção são os santuários. Os santuários são lugares que resgatam animais de fazendas de abates, indústria de testes, maus tratos de circos e até para preservação de espécies selvagens, oferecendo uma experiência de reconexão com a natureza.

Zoológicos

Isso traz outro tópico delicado em questão: os zoológicos.

Qual a diferença entre zoológicos e santuários? A principal diferença é que os zoológicos têm fins lucrativos, compram animais de caçadores especializados, de circos ou os capturam na natureza para transformá-los em atração para os visitantes, que pagam entradas. Já os santuários são locais que recebem animais vítimas do desmatamento, da caça, dos circos e dos zoológicos para dar-lhes cuidados e, se possível, eles são reintegrados à natureza após a sua recuperação. Resumindo, os zoológicos compram animais para deixar em exposição (por diversas finalidades), enquanto os santuários os compram para tirar de situações de maus tratos.

Por que então, existem tantas pessoas que defendem os zoológicos?

Quem é à favor de zoológicos e aquários, alega que hoje em dia a fiscalização do IBAMA é muito rígida, então não há espaço para a negligência que existia antigamente. Alegam também que funcionam como uma maneira de preservar espécies que estão correndo o risco de extinção, além de reintegrar na fauna e servir como um centro de reabilitação. Os zoológicos brasileiros são muito conhecidos por serem efetivos na hora de salvar as espécies por meio da reprodução em cativeiro, no repovoamento.

Outro papel importante do zoológico é educar. A ideia é que a pessoa que visita zoológicos consiga entender mais sobre a biologia dos animais e sentir mais empatia por eles. Ademais disso tudo, os zoológicos são construídos e mantidos visando o bem estar do animal, o clima, a alimentação, o manejo dos filhotes… sempre tentam fazer com que eles não fiquem entediados e se sintam o mais próximo possível de seu habitat natural.

Quem é contra zoológicos por sua vez, alega principalmente que não somos donos dos animais para os manter confinados, mas vai além disso. Como já dito antes, por mais que os animais recebam todo o amor do mundo, sejam super bem tratados e vivam em boas condições, jaula nenhuma vai se assimilar à natureza, então começa por aí a crítica aos zoológicos.

Outra crítica se deve ao fato de que os zoológicos compram esses anos com o intuito de entretenimento, porque eles funcionam como ativos para a empresa. E mesmo com as premissas de: salvar a espécie e educar os humanos, conscientizando-os sobre os animais, quem é contra os zoológicos possui um contra-ataque:

  • Salvar a espécie: Grande parte das espécies não estariam ameaçadas se não fosse a intervenção humana na natureza para começo de conversa.
  • Educar os humanos: Não foi preciso enjaular dinossauros para que pudéssemos os estudar e entender.

Para mais, a ideia da infelicidade de se viver em um ambiente fechado é uma das principais preocupações, um termo foi criado para designar isso: zoochosis, que foi criado em 1992 por Bill Tavares, usado para descrever o comportamento desses animais, que apresentam sinais de estresse e depressão, desenvolvendo comportamentos incomuns.

Ou seja, quem é contra zoológicos é contra a ideia de tirar os animais da natureza, ou até mesmo os reproduzir lá dentro, para que sejam usados como entretenimento e fonte de renda, o que não acontece com os santuários, que também possuem como objetivo a reintegração com a natureza e o cuidado com o bem estar.

É claro que nesse texto foquei na ideia do zoológico e não de fato como funciona cada zoológico, até porque sabemos que nem todos tratam os animais bem, assim como nem todos os santuários funcionam do jeito que foi citado aqui. Esse é um assunto bem mais complexo que divide opiniões ao longo do mundo.

Em outro post, trarei tópicos ainda mais pesados sobre o uso de animais no entretenimento: passeios a cavalo, brigas de galo, touradas e rodeios, onde o entretenimento por si só não tem como objetivo educar ou preservar, mas sim machucar e humilhar.

Mas agora me diz, qual sua opinião sobre os tópicos debatidos nesse post? Deixa aqui nos comentários!

Ah! E você pode conhecer um pouco mais os santuários por essa matéria feita pelo Domingo Espetacular, sobre a Black Jaguar-White Tiger Foundation:

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3 respostas

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ESCRITO POR
Luiza Helena
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