Eu cresci rodeada de passarinhos, na casa dos meus avós tinha de tudo: periquito, calopsita, agaporne, papagaio e até maritaca. Sempre tive uma ligação muito forte com eles, principalmente com a minha calopsita, a Maria Chokita (ganhei ela quando eu tinha 10 anos).
Com isso, uma frase que era comum de se ouvir aqui em casa e ficou muito marcada na minha mente:
“Tenha pena de quem tem pena”.
Mas para a surpresa geral, frango foi o último animal que tirei do meu prato. Como já contei em outros posts, eu nunca gostei de carne e nunca entendi porque comíamos uns e amávamos outros, tanto é que nunca comi peixe na vida, mas os demais animais eu era obrigada a comer. Desenvolvi o hábito de comer assistindo televisão para não ter que pensar no que estava ali no meu prato, hábito que mantenho até hoje, mesmo não tendo crueldade alguma ali mais.
Aos meus 16 anos, deixei de comer carne bovina e presunto (única carne suína que comia), mas precisei continuar com o frango pois minha família acreditava que era a única fonte de proteína que eu poderia obter, passado 2 anos deixei de comer aves também. Lembro-me até hoje do momento exato que decidi que aquele animal seria o último que colocaria na minha boca.
Estava almoçando e a Maria Chokita estava em meu ombro, quando coloquei o frango no garfo e estava levando à boca, ela se aproximou para pegar. Ali ficou gritante a minha hipocrisia, amar tanto uma ave e ao mesmo tempo me alimentar de outra. Isso aconteceu no dia 23/06/2016, desde então nunca mais me alimentei de partes do corpo de outro ser vivo.
Mas agora, vamos aos motivos que você, assim como eu, deveria cortar a carne de aves do seu cardápio AGORA MESMO.
Animais
Estudos comparam a inteligência de galinhas à de primatas, apontando que galinhas são capazes de empatia, lógica e até astúcia.
Galinhas e galos são incrivelmente inteligentes e entendem muito do que acontece no mundo à sua volta, no mesmo estudo fora descoberto que a espécie é capaz de tirar conclusões lógicas a que crianças só chegam aos sete anos de idade.
Um teste com ovos de plástico amarelos mostrou que, no mínimo, os filhotes recém-chocados percebem a diferença entre um conjunto de objetos maior e um menor. As galinhas também parecem dotadas de uma capacidade abrangente de pensar tridimensionalmente e, até certo ponto, de multitarefas. Elas conseguem procurar comida ao mesmo tempo em que avaliam quão amigável ou hostil um outro animal é, enquanto simultaneamente vasculham o céu para se proteger de eventuais aves de rapina.
Quanto a astúcia: elas podem se privar de se alimentar imediatamente se sabem que receberão ração melhor mais tarde.
Além disso, as aves são conscientes do próprio status social dentro de uma determinada população, tendo clara sua posição na hierarquia. Basicamente, elas conseguem refletir sobre o próprio ser. A comunicação dentro da espécie é igualmente bastante complexa, envolvendo 24 sons diferentes e um grande número de sinais visuais.
Galinhas percebem intervalos de tempo e fazem deduções sobre acontecimentos no futuro.
Elas se observam mutuamente e aprendem umas com as outras, além de serem fortemente influenciadas pelo comportamento materno. Sentir ansiedade pelos outros também faz parte do universo psicológico galináceo.
Se uma lufada de vento agita as penas de seus pintinhos, as galinhas mães passam a desenvolver os mesmos sintomas de estresse que os filhotes. Isso leva à dedução de que elas seriam capazes de empatia, a capacidade de entender as eventuais aflições de outros membros da espécie. Tal nível de compreensão só tem sido registrado em relativamente poucos animais, como primatas e corvos.
E apesar de tudo isso, mais de 50 bilhões de aves são mortas por ano para consumo. Só no Brasil, mais de 15 milhões de frangos são mortos por dia.
Os frangos vivem muito pouco, o padrão industrial é de 40 a 45 dias. Já no caso das galinhas poedeiras, a expectativa de vida é de um a dois anos. São animais que poderiam viver pelo menos dez anos.
E como se não bastasse o modo em que vivem esses curtos dias, o momento de sua morte é longe de ser agradável. Inicia-se no pré-abate, com o jejum e dieta líquida das aves entre 8 a 12 horas. A captura é feita durante à noite, porque as aves não enxergam muito bem a luz azulada, cada ave é capturada individualmente e é carregada pelas duas pernas a pequenas gaiolas, onde serão transportadas em qualidades ainda piores, visto que além do espaço limitado, ainda sofrem o estresse de mudança abrupta de local.
A primeira etapa no abate é a insensibilização, que assim como suínos e bovinos, pode não ocorrer de maneira correta, fazendo com que os animais ainda estejam vivos nas etapas seguintes, como na sangria.
Meio ambiente
Os impactos da avicultura ocorrem principalmente no ar (através da emissão de gases e poeira), no solo (com excessos minerais causados pelo mau uso pelo descarte de aves) e na água (pelo uso excessivo de água e desperdício).
Ar
As produções de gases pela atividade agrícola são classificadas como fontes estacionárias de emissão, ou seja, aquelas originadas de local específico, emissões de poeiras, odores, amônia e os gases do efeito estufa.
Os resíduos produzidos podem emitir até 160 diferentes tipos de odores, sendo que os animais e os humanos podem ter respostas diferentes quando expostos a eles.
Estudos atmosféricas estimam que as instalações de aves de corte são responsáveis por 30% das emissões de poeira fina da Grã-Bretanha, sendo composta por emissões das fezes, urina, rações, fungos, bactérias e endotoxinas.
Água
A avicultura pode impactar a água de diversas maneiras, desde o incorreto dimensionamento ou manejo dos bebedouros resultando em gastos excessivos do recurso, até a aplicação dos resíduos no solo com potenciais riscos de poluição e contaminação das águas subterrâneas e superficiais.
Dos elementos presentes nos resíduos, os que inserem maiores riscos para as águas são o nitrogênio e o fósforo. No caso do nitrogênio, o nitrato é uma das formas disponíveis de absorção para plantas e também é a forma de maior mobilidade no solo, e por ser ânion está sujeito a lixiviação, podendo alcançar lençóis freáticos próximos a superfície. Pela legislação brasileira, águas superficiais com concentrações de nitrato acima de 10 mg/L podem apresentar toxidez para os humanos e animais. Já existem muitos relatos, ao redor do planeta, de regiões
contaminadas por altos níveis de nitrato, sendo que estas apresentam como característica o uso abusivo e sem critérios técnicos de fertilizantes orgânicos e minerais.
O fósforo é o principal responsável pelo processo denominado de eutrofização dos corpos d’água. Neste processo, o excesso de nutrientes irá causar propagação excessiva das algas e outras plantas aquáticas. Quando estas morrem, inicia-se o processo de degradação da matéria orgânica e consequente redução dos níveis de oxigênio dissolvido, ocasionando a morte da fauna aquática.
O uso incorreto dos resíduos como fertilizante ou o descarte destes nos corpos d’água também poderá levar outros elementos que irão deteriorar a qualidade das águas. Metais como o níquel, magnésio, chumbo, cromo, zinco, cobre, ferro e mercúrio, utilizados na formulação das dietas dos animais, estão presentes nas fezes. Estes possuem efeito cumulativo quando absorvidos por outros seres vivos, atingindo principalmente os peixes.
Solo
Os solos começaram a ser os grandes receptores de resíduos, as consequências do meio aparecerão a médio e longo prazo na escala de tempo, dependendo do tipo de solo, do seu manejo e preservação das matas ciliares.
A forma mais comum de poluição e contaminação dos solos em regiões avícolas está relacionada ao uso abusivo dos resíduos como fertilizantes. Os impactos mais comuns são o excesso de minerais nos solos, em regiões onde a aplicação dos resíduos avícolas é histórica, detectam-se altas concentrações de nitrogênio, fósforo e potássio.
O mau uso dos resíduos também pode ter como impacto o desencadeamento de processos erosivos e a compactação do solo.
Saúde
O frango costuma estar no cardápio de quase todos que estão em dieta, seja para perder peso ou ganhar massa muscular, sendo visto sempre como uma carne “limpa” e “saudável”, mas será que não existe o lado negativo?
Existem diversos:
Hormônios
Apontado como o maior vilão do frango, estão os hormônios, podendo alterar o metabolismo das mulheres devido a essa sobrecarga de hormônios, podendo a longo prazo, dar o efeito contrário e fazer com que se perca massa muscular. Alguns indivíduos ainda podem ficar com a pressão alta e problemas cardíacos mais cedo.
Ricos em gordura saturada
Os frangos, assim como a carne bovina, são responsáveis pelo aumento dos níveis de LDL (colesterol ruim) no organismo. Há a possibilidade de aumentar também os riscos de problemas de coração.
Antibióticos
Segundo pesquisas, os malefícios não são diretos, mas comer carne de frango criado com o uso de antibióticos pode causar aumento da resistência ao medicamento.
A resistência aos antibióticos (ou antimicrobianos) é a capacidade das bactérias de resistir aos efeitos desses medicamentos – ou seja, os germes não são mortos e seu crescimento não é interrompido. Dessa forma, o medicamento que antes funcionava para determinada doença passa a ser ineficaz e a resistência aos antibióticos é uma condição que adoece mais de 2 milhões de pessoas e causa a morte de outras 23 mil a cada ano.
O governo brasileiro, através da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), publicou um plano de ação no qual compartilha da opinião de que a resistência aos antibióticos é um problema de saúde pública, e que uma de suas causas é o uso inadequado desses medicamentos na produção de animais para consumo.
Ração
Segundo novos estudos, a ração consumida por frangos, em muitos casos pode estar contaminada por micotoxinas, substância produzida por fungos, e que ao serem ingeridas, podem causar efeitos agudos nos animais e, quem sabe, em quem come sua carne.
Gripe aviária
Diante da situação atual, não podemos esquecer da gripe aviária.
A gripe aviária surgiu em meados do século passado e é causado por uma variedade do vírus Influenza (H5N1) hospedado por aves. O H5N1, vírus causador da gripe aviária, é um tipo de vírus Influenza, o responsável pela gripe comum.
A OOMS alerta desde 2003 que uma pandemia pode ocorrer quando três condições aparecem: um novo subtipo de vírus da influenza emerge, infecta as pessoas, causando doença grave, e se dissemina facilmente e substancialmente entre as pessoas. O vírus H5N1 se encontra entre as duas primeiras condições: é um novo vírus para humanos, que infectou 565 pessoas desde que apareceu pela primeira vez em 2003, matando a 311 delas, segundo os números da Organização Mundial da Saúde (OMS). O último óbito ocorreu no ínicio de agosto no Camboja, onde foram registrados oito casos de infecção em humanos este ano, resultando todos em casos fatais.
No entanto, o vírus endêmico está presente em seis países, embora o número de afloramentos nas aves de criações domésticas e na população de aves silvestres diminuiu notavelmente desde um máximo anual de 4 000 até tão somente 302 em meados de 2008. Mas os surtos aumentaram de forma progressiva desde então, com cerca de 800 casos registrados em 2010-2011. Desde 2013, a gripe aviária H5N1 matou 455 pessoas em todo o planeta, segundo dados da OMS.
Fontes:
https://www.greenme.com.br/alimentarse/alimentacao/1874-mais-um-motivo-para-nao-comer-frango/
https://pebmed.com.br/surto-de-gripe-aviaria-faz-governo-chines-abater-quase-18-mil-animais/
https://www.aviculturaindustrial.com.br/imprensa/avicultura-e-meio-ambiente/20030508-170303-0401
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/57056/1/impacto-ambiental-da-producao.pdf