Natal…
Época de amor, carinho e compaixão entre todos os seres vivos…
… exceto com aqueles que vão parar nos pratos durante a ceia.
Eu particularmente não me sinto muito à vontade abordando temas como esse, porém é necessário. O veganismo existe como uma resposta à brutalidade e crueldade com os animais que vivem na nossa sociedade. Então querendo ou não, temos que falar sobre isso.
Não posso seguir com a série especial de Natal sem dar atenção àqueles que merecem, sobretudo, nessa época do ano, nossa atenção.
Vim aqui hoje para falar dos perus. E dos chesters. E das leitoas.
Peru
Nos EUA, é costume comer peru no Dia de Ação de Graças, celebrado desde 1621. Eles comemoram a boa colheita realizada pelos peregrinos e por nativos americanos na época. A ave era comum na região e, pela grande quantidade de carne, representava fartura. Desde então o prato se popularizou ao redor do mundo, e nos países em que o Dia de Ação de Graças não é comemorado, como no Brasil por exemplo, deixamos o peru pro Natal.
Indústria do peru no Natal:
Estima-se que só no Brasil são produzidas mais de 337 mil toneladas de carne de peru anualmente, porém mais de 90% são exportadas para o exterior, em dezembro de 2015 e 2016, a porcentagem de exportação de perus subiu de 146,9% para 695,6%,
Desses 10% que são comercializados no Brasil, 7,7 milhões são consumidos a cada Natal. A criação de peru é a atividade mais encontrada na região centro-oeste, mais precisamente no estado de Goiás, onde são abatidos cerca de 30 mil perus por dia.
Mas, como a oferta de perus consegue cobrir esse aumento gritante na demanda nos mês de dezembro? Os perus vivem menos ainda, normalmente viveriam cerca de 60 dias, mas em época de Natal, vivem cerca de 40 dias, são alimentados muito mais frequentemente, com mais nutrientes para crescerem mais e virarem carnes mais “apetitosas”.
Entretanto, o que poucos sabem sobre os perus é que essas aves são extremamente sociáveis e vivem em família. As mães são extremamente cuidadosas com seus filhotes, os ensinando o que comer, como se esconder de ameaças e outros comportamentos importantes. Os membros de uma mesma família até mesmo gostam de comer juntos! Quando confiam em alguém, eles também gostam de receber carinho, dão abraços e até “ronronam”.
E mesmo assim, dentro da indústria da carne vivem apenas 60 dias (40, se for em época de Natal), e não tem a oportunidade de aproveitar uma vida ao lado de sua família.
Chester
Ele foi trazido dos EUA para o Brasil em 1979, com o objetivo de criar um concorrente ao peru e foi comercializado pela Perdigão, para ser uma alternativa mais barata ao peru. A criação do chester aconteceu a partir de 11 linhagens de frangos escoceses, em um processo que por anos a empresa manteve em sigilo. De acordo com a marca, o motivo de tanto segredo na criação era evitar cópias do padrão genético e garantir a exclusividade…
O chester não é nome de um animal, mas de uma marca criada pela própria empresa. Ele é fruto de um cruzamento de linhagens especiais de aves e tem bastante carne: 70% são peito e coxa.
Pouco se sabe sobre esse animal, as fotos que circulam na internet não possuem certificado de autenticidade, e as informações podem ser falsas (mas também podem ser verdadeiras).
“Transgênico”, “doente”, “monstro”, “aberração”. “Eles criam esses pseudo animais em tubos enormes cheios de líquidos semelhantes a placenta e enfiam vários tubos nos animais para que máquinas substituam seu coração, rins, fígado etc..”. “É um bicho sem alma, sem coração… e sem cabeça!!!”. “O galo tem quase 1 metro de altura. As fêmeas quase não andam quando adultas e são poedeiras cativas”. “Eles criaram uma galinha com um peito gigante. Tão gigante que ela nem pode andar e passa a vida toda deitada esperando o abate”. “É uma ave doente, com problemas mentais, que come 24 horas, se desenvolve muito rápido e por isso fica grande e gordo, pronto para o abate mais rápido que os outros galináceos”.
Eu, particularme, não sei no que acreditar sobre o chester, mas uma coisa é certa: é um animal, e não merece sofrer, não merece viver uma vida com o único intuito de ser abatido e virar comida.
A produção do chester tem início nos meses de fevereiro e março para chegar à mesa dos consumidores no Natal.
… e todos juram de pé junto que eles são grande assim por conta da alimentação e genética, nada de anabolizantes eim!!
Leitão
Assim como o peru, a leitoa também é consumida no Natal e essa tradição é ainda mais antiga que a do peru. Os romanos já incorporavam a leitoa assada em seus banquetes desde o século XVIII. O porco era consumido principalmente no inverno por ser uma carne com mais gordura.
O tender, diferente do Chester e do peru, não é uma ave, nem é derivado de uma. Na verdade, ele é o pernil defumado do porco, ou um tipo de presunto.
No Brasil, Minas é o estado que mais consome carne suína, são 25 quilos ao ano por habitante, contra média nacional de 15 quilos por brasileiro. O Natal certamente tem grande peso nessa conta, já que neste mês as vendas no comércio chegam a crescer mais de 80%.
O que todo mundo ignora é que Porcos são animais tão afetuosos e sociáveis quanto cachorros. Eles sonham enquanto dormem. Porcos têm a capacidade cognitiva de serem bastante sofisticados. Mais do que os cães e, certamente, mais do que crianças de três anos de idade. Os suínos podem jogar videogames e indicaram preferências de temperatura na pesquisa comportamental.
E mesmo sendo muito parecidos com o “melhor amigo do homem”, eles continuam sofrendo muito, desde que nascem, passam por processos como castração, corte do rabo (para evitar que os próprios animais se mordam, por conta também do estresse), corte dos dentes (para evitar canibalismo, devido à situação estressante em que vivem), dentre tantas outras crueldades que abordarei em outro post.
Já dá para ter uma pequena ideia de como sofrem mais ainda esses animais em períodos de final de ano. Como a demanda por essas carnes aumenta, o mercado tem que aumentar a oferta para poder cobrir e não gerar déficits na economia. E com isso, quem sofre são os animais, que são engordados muito mais do que normalmente seriam e vivem uma vida ainda mais curta e cruel.
Ok, agora que você deu uma olhada no sofrimento, no mercado, na cultura e nas características de cada animal, que tal adotar uma ceia vegana neste Natal? Postei dicas para prato principal, entrada e acompanhamento e sobremesas.
Ajude os animais! Faça a conexão! Seja vegan!